Inspirado pelo post do Pinguim sobre a saúde em Portugal vou aqui relatar uma pequena história, que aconteceu há (à volta de)8 anos.
Um dia normal, como qualquer dia, minha cara metade (J), sentiu-se mal, com terriveis dores no abdomen, peguei nele, chamei um taxi (não tinha carta na altura) e fomos para o hospital após vários exames, e umas 9 horas de espera, resultado do diagnóstico, ulcera gástrica. Saimos do hospital com uma receita de medicamentos, em que o das ulceras "só" custava 8 contos, mas o preço era o menos, de momento que o J se sentisse melhor é o que importava.
Passado duas semanas, o J acordou uma manhã cheio das mesmas dores, pior, passado um bocadinho começou a vomitar o que parecia uma mistura de bilis com sangue, apavorado chamei um taxi (que sabia que iria chegar mais depressa que a ambulancia) e peguei nele, e fomos a correr para o hospital... entramos no hospital ás 7 da manhã, tive a boa ideia de levar os medicamento que ele estava a tomar, mas... não me deixaram entrar com ele na triagem... ele num estado daqueles...
Fiquei até ao meio dia, 5 horas, sem saber o que se estava a passar, sem poder fazer nada, o J pouco tempo depois do meio dia, pálido, suado, e quase sem poder andar é que me veio dizer que ainda tinha de ir fazer uns testes, e para me ir embora... como poderia eu me ir embora...
Enfim, ele voltou lá para dentro e as 19 horas, chamaram os seus acompanhantes (eu) para ir ter com ele lá dentro, fui ter com ele, e lembro-me perfeitamente as palavras dele na altura... "a médica que me estava a fazer a ecografia, até se ria, do disparate da ulcera, ela disse que era claramente pedras na vesicula, e alias a vesicula já rebentou e tem uma hemoragia interna..." enquanto esperava pela maca para me dar a roupa e as coisas dele...
Veio então uma infermeira que nos mandou ir esperar na sala de espera das visitas, e tentei explicar-lhe que ele estava a espera da maca, e ela, só chamou o segurança para nos fazer esperar na sala de espera á força...
O "J" cada vez mais pálido, deitado em cima dos bancos da sala de espera a gemer de dores, com a cabeça no meu colo....
Quando chegou as 20horas, peguei no J debaixo do braço e irrompi pela sala das urgências a protesto do segurança e de quem lá estivesse, e estava lá um médico, a correr de uma lado para o outro da sala de urgência, a procura do J para ser operado de urgência... quando me viu só perguntou "onde é que vocês se meteram!!!!", eu na altura nem pensava para responder, em 30 segundos o J estava de bata e em cima da maca...
Ás 20h30 minutos estava na sala de operação a ser operado... e correu tudo bem...
Podem me dizer que podia ter feito queixa, ou que deveria ter tirado o nome da infermeira, ou dos médicos, ou até leva-los a tribunal... mas o importante não foi isso... o importante foi que os médicos, e infermeiros que tanto se queixam das condições de trabalho, tratam de nós, a quem lhes paga, como gado, como montes de carne dispensaveis...
Desde aí, temos seguros de saúde, e nunca mais fomos ao hospital publico, e é por essas e por outras que me dá sempre qualquer coisa má quando há algum "possivel problema" de saúde.
(Espero que não esteja muito confuso, porque simplesmente não vou reler este texto, só de relembrar esta experiência não foi das coisas mais agradaveis...)
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11 comentários:
Perante o que aqui contas, veio-me à lembrança o Einstein e a sua teoria da relatividade...
E se tudo não tivesse corrido bem, amigo?
E quem te paga, a ti, as dores de uma angústia terrível e ao J as dores reais durante horas e horas?
Ora porra, vão-se mas é foder!!!!!
Desculpa-me, acho que só agora desabafei a sério.
Abração.
Pinguim: e foi por pouco que não correu nada bem, se não tivesse ido porta dentro pela sala de urgência... enfim não quero pensar nisso... para toda aquela gente, o mundo continuava como se nada fosse, é só mais uma estatistica... incumbir culpas e tribunais para quê, de certeza que acabaria por não haver culpados, a Justiça funciona tão bem como o sistema de saude, e o importante não era haver culpado, é perdermos a vida de quem amamos assim...
Tás á vontade para desabafar, o meu texto inteiro foi um desabafo... não escrevi isto mais cedo, porque estava escondido nos confins da minha memória, e posso te dizer que cheguei a ter pesadelos sobre isso anos após ter acontecido.
Um abraço grande
Esta tua saga é do mais medonho e preocupante que há! Fica-se com a ideia que quem está doente fica à mercê do livre arbítrio das batas brancas que andam a pavonear o estetoscópio! E provavelmente assim é.
Toda a gente sabe que os hospitais têm ordens expressas para cortarem e limitarem os gastos ao mínimo. O que puderem poupar, poupam - mesmo que isso se reflicta no abate (não deliberado, claro!) de vidas humanas. Já precisei e tb já vi de muito nas urgências hospitalares...
Embora nunca tenha sido mal atendido nas urgências públicas (nomeadamente do S. João - área da minha residência), para consultas prefiro recorrer ao Hospital do Foco. Demoram menos uns anos.
Bolas!
Deve ter sido um pesadelo. Eu, felizmente, tanto quando precisei - e não foi há muito tempo - e sobretudo para o meu filho, nunca tive "cenas" dessas.
Catatau: É indescritivel o sentimento de impotência que se tem nessa posição, sentimos que os anos a descontar para a segurança social, foi mesmo só fogo de vista...
Tongzhi: Ainda bem que nunca tiveste esta experiência... é do pior que se pode ter, e não a desejo a ninguem
Abraços aos dois!
Vá lá que tudo acabou bem, mas podia não ter acontecido assim.
Eu tirando horas de espera por uma consulta não tenho grandes queixas do atendimento. mas também só fui uma vez às urgências do Amadora-Sintra e felizmente estava tudo calminho, o caso não era grave e não demorei muito a ser atendido nem a fazer exames.
Um abraço
Special K: Sim, acabou tudo bem... desta vez... mas com tamanha incompetência, acabou tudo bem para nós... Quantos terão perdido quem amam em circunstancias iguais...
Uf! Estive hoje nas urgências do HSFX e o médico que me atendeu foi de uma atenção e simpatia extremas!!!
No entanto, sei que é assim como relatas: há médicos - como me disse uma vez uma enfermeira - que nem para lavar escadas serviam!
Um abraço muito amigo!
Sp: Espero que estejas melhor, ainda bem que foste bem atendido, e sim há médicos, e médicos.
O problema do curso de medicina, além das médias altissimas para entrar, não interessa a inteligência emocional da pessoa que para lá entra, é preciso médicos que sejam humanos, e não homens do talho disfarçados...
há factos que mesmo não sendo surpresa me deixam espantados. mas lá está, como país do 1º mundo, somos bem o exemplo de como se tratam as pessoas e como tudo fica/está entregue à sorte do acaso.
um abraço
Paulo: foi mesmo uma sorte... é uma pouca vergonha...
Abraço
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